quinta-feira, 7 de julho de 2011

ANTI-HERÓI AMERICANO / AMERICAN SPLENDOR (2003) | CRÍTICA DO FILME

Autor: Rubens Junior | Facebook | Twitter


NOTA
10

Direção: Shari Springer Berman e Robert Pulcini
Roteiro: Shari Springer Berman,Robert Pulcini
Elenco: Molly Shannon (Stage Actor Joyce), Hope Davis (Joyce Brabner), Paul Giamatti (Harvey Pekar), Robert Pulcini (Bob The Director), James Urbaniak (Robert Crumb), Daniel Tay (Young Harvey)

Desde que postei a lista de Todas as adaptações de quadrinhos para cinema, decidi que assistiria e compraria todos estes filmes (são mais de 200 filmes.. rs). O Anti-Herói Americano estava entre os que eu ainda não havia assistido, então, ontem, acabei alugando este e o Besouro Verde. Eu não esperava grandes coisas do Besouro, mesmo assim foi uma grande decepção. Ao mesmo tempo, eu tinha grandes expectativas para o Anti-Herói e, mesmo assim, este filme me surpreendeu demais! Eu já havia lido e escutado bons elogios sobre este filme, mas não imaginava que seria PERFEITO!


Para quem não sabe, American Splendor (título original do filme) é o título de uma série de hq's americana criada e escrita por Harvey Pekar, que também é o personagem principal das histórias que contam sua característica visão pessimista sobre sua própria vida cotidiana, envolvendo suas experiências cotidianas no trabalho, em casa, com sua esposa, no mercado, etc. Harvey decidiu criar estas hq's pois precisava de um faturamento maior que o salário que ganhava como arquivista no hospital em que trabalhava. Mesmo após se tornar famoso ao ser apresentado em grandes programas como o Late Show, de David Latterman, American Splendor nunca se tornou um fenômeno de vendas, e Harvey nunca se sentiu financeiramente confortável para deixar seu emprego fixo. Esta foi só uma base da vida e do trabalho de Harvey nas hq's. Mas, apenas com este resumo, é fácil deduzir a incrível dificuldade que ele tinha em manter sua casa, seu casamento, suas amizades, já que tudo na sua vida nunca parecia alcançar a plena satisfação.

Já que as hq's de Harvey falavam sobre sua vida pessoal, é totalmente impossível criar um filme que não tivesse o objetivo e trazer todo este drama à tona nas telas. O que tragicamente poderia tornar o filme melancólico demais a ponto de render algum sucesso de bilheteria. Pois foi a partir desta dificuldade que o filme conseguiu se superar e se tornar uma das melhores adaptações de hq para cinema que já vi.

O filme tem 2 cenas que me marcaram demais e dificilmente vou esquecer:

  1. O filme começa com algumas crianças fantasiadas na época de Halloween, pedindo doces nas casas. Harvey é uma destas crianças. Porém, ele não estava fantasiado. Então, quando a dona da casa tenta adivinhar sua fantasia antes de lhe dar o doce, ela indaga: "Do que vc está fantasiado?". Harvey responde: "De nada. Sou só mais um menino do bairro querendo um doce!" A mulher fica pensando, achando a atitude do menino meio "estranha", até que Harvey se enfeza e vai embora sem ganhar os doces, dizendo uma frase incrível ao olhar todas as outras crianças fantasiadas ganhando doces pelas casas: "Por que todo mundo tem que ser tão idiota???"
  2. A outra cena inesquecível é quando Harvey, na sua eterna tentativa de avaliar e compreender sua vida, começa a concluir sobre a maturidade, e vai dizendo: "As pessoas dizem que é bom envelhecer, pois vc ganha maturidade. Eu não sei o que tem de tão bom nesta maturidade, pois já estou velho, lotado de muita experiência e maturidade em muitas áreas, mas na minha vida não tem nada de bom. Eu trocaria toda essa maturidade por um pouco de felicidade."

  • CONTEÚDO - Cara, eu só não chorei nesta parte do filme, quando ele cita esta frase, pois não fizeram o filme com o intúito de fazer-nos chorar, e sim, de conhecer a vida e a história de Harvey e de sua American Splendor de forma entretida. Durante o filme vc ri muito. Mas nunca de sua desgraça. E sim pela forma com que ele reage com a desgraça. E é este o primeiro crédito que eu dou para o filme: a forma mágica que os diretores conduziram este filme, de forma que, mesmo com um conteúdo triste, eles o transformaram num tempo de entretenimento de qualidade, sem palavrões, sem agressões fortes, num filme que até minha mãe adoraria assistir, e não numa tragédia grega que só os "alternativos" e "undergrounds" conseguem engolir (o que era o esperado, já que as hq's American Splendor são totalmente impróprias para menores de 21 anos!).
  • EDIÇÃO - Outra coisa que achei surreal, que também envolve a direção, foi a edição do filme. Embora Paul Giamatti seja o protagonista, o proprio Harvey Pekar aparece bastante no filme, as vezes como narrador, as vezes como apresentador, as vezes como comentarista, as vezes em entrevistas e, as vezes, em cenas de making off que foram incluídas no filme devido sua relevância. Normalmente, quando o diretor decide contar a história desta forma na edição, o filme acaba ficando muito com cara de documentário. Neste filme isso não acontece. Por incrível que pareça, vc consegue focar tanto o Harvey quanto o Paul como personagem principal na mesma intensidade, sem que a história geral sofra intervenções entre a realidade e a interpretação na sua mente. Foi a primeira vez que vejo isso acontecer num filme. Por isso disse que foi surreal.
  • HARVEY PEKAR - Embora Paul Giamatti seja um excelente ator, embora ele tenha interpretado muito bem este papel, ao ver Harvey falando sobre ele mesmo no filme em imagens reais, vc percebe que Giamatti poderia ter extrapolado moooito mais em sua atuação. Harvey é muito mais energético, histérico e expressivo do que Giamatti demonstrou, e suas constantes aparições durante o filme, até colaboraram para criar uma imagem de Harvey em Giamatti muito mais convincente. Se Harvey não aparecesse durante o filme, com certeza eu teria ficado, no máximo, na nota 8.


No final das contas, amei o filme, adorei a história e tudo que envolveu o filme. ENTROU FÁCIL PARA MINHA LISTA DAS 10 MELHORES ADAPTAÇÕES DE HQ'S PARA CINEMA. Embora cheio de defeitos, Harvey é realmente uma pessoa incrível. Um cara extremamente inteligente que não conseguia explorar todo seu potencial devido ao seu incrível pessimismo. Mesmo assim, na sua eterna tentativa em ser feliz, ele conseguiu produzir trabalhos maravilhos além de sua série de revistas, em volumes especiais como, por exemplo, uma hq sobre sua vida no ano que descobriu estar com câncer chamada OUR CANCER YEAR, e a hq que produziu no ano em que este filme era produzido chamada OUR MOVIE YEAR. Confesso que, apesar de nunca ter lido nenhuma American Splendor (até hoje 07/07/2011), assistir este filme me tornou um dos maiores fãs de Harvey Pekar e de seu trabalho. Isso me deixou ainda mais triste quando soube que ele faleceu em 12/07/2010, aos 70 anos de idade, sendo mais um daqueles artistas fenomenais que faleceram sem ver a obra de sua vida alcançar o sucesso merecido. E vc vai entender melhor o que estou dizendo e sentindo, após ler minha conclusão deste post, recitando as próprias palavras de Harvey Pekar no final deste filme:

"EU VOU ME APOSENTAR EM BREVE E, SOMANDO MINHA APOSENTADORIA COM O DINHEIRO QUE GANHAREI COM ESTE FILME, ACHO QUE FINALMENTE VOU CONSEGUIR TER UMA VIDA UM POUCO RASOÁVEL." Harvey Pekar (1939-2010)


Boston Society of Film Critics
Melhor Roteiro (Pulcini e Berman Springer)

Chicago Film Critics Association
O cineasta mais promissor (Pulcini e Berman Springer)

Prêmios Chlotrudis
Melhor Roteiro Adaptado (Pulcini e Berman Springer)

Los Angeles Film Critics Association
Melhor Filme
Melhor Roteiro (Pulcini e Berman Springer)

National Society of Film Critics
Melhor Filme
Melhor Roteiro (Pulcini e Berman Springer)

New York Film Critics Circle
Melhor Atriz (Davis)
Melhor Primeiro Filme

Writers Guild of America (WGA)
Melhor Roteiro - Adaptado (Pulcini e Berman Springer)

Academy Awards
Melhor Roteiro - Adaptado (Pulcini e Berman Springer)

Chicago Film Critics Association
Melhor Ator (Giamatti)
Melhor Atriz (Davis)
Melhor Filme
Melhor Roteiro (Pulcini e Berman Springer)

Prêmios Chlotrudis
Melhor Filme
Melhor Diretor (Pulcini e Berman Springer)
Melhor Ator (Giamatti)
Melhor Atriz Coadjuvante (Davis)

Prêmios Globo de Ouro
Melhor Atriz Coadjuvante - Filme (Davis)
Satellite Awards
Melhor Ator - Musical ou Comédia (Giamatti)
Melhor Atriz - Musical ou Comédia (Davis)
Melhor Diretor (Pulcini e Berman Springer)
Melhor Filme - Musical ou Comédia
Melhor Roteiro - Adaptado (Pulcini e Berman Springer)





3 comentários:

  1. Cara faz tempo que quero ver este filme, nem li o artigo pq quero ver o filme primeiro. Onde conseguiu o filme?

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  2. Qualquer locadora tem. O difícil é achar para vender hoje em dia. Mas em breve eu acho e compro. No artigo eu não conto o filme, só digo que é muito bem adaptado das hqs e os atores são ótimos

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  3. Excelente resenha Rubens! A única compilação do trabalho de Pekar no Brasil se intitula "Bob & Harv: Dois Anti-heróis americanos" que reúne apenas as histórias de Pekar desenhadas por Crumb, algumas delas aparecem dramatizadas no filme. Eu escrevi uma resenha sobre essa coletânea no site Pipoca e Nanquim. O único outro trabalho do Harvey por aqui é a Graphic Novel Os Beats em que ele e outros colaboradores (inclusive a Joyce) fazem biografias e discutem o legado dos escritores beats. Um abração!

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